Primeira causa de morte no mundo ocidental, as doenças cardiovasculares chegam a matar aproximadamente 17 milhões de pessoas em todo o planeta, o que corresponde a um terço da mortalidade total. Desse número, uma média de 7,2 milhões é acometida por infarto agudo do miocárdio (IAM), o popular ataque cardíaco – enfermidade que matou, no mês passado, o humorista Cláudio Besserman Vianna, o Bussunda do programa Casseta e Planeta.
O IAM é preocupante porque, assim como outros problemas do coração, evolui de maneira silenciosa durante anos sem que o paciente apresente sintomas. “O desenvolvimento ocorre quando o fluxo de sangue para uma parte do coração é bloqueado devido à formação de um coágulo que obstrui um vaso sangüíneo pela formação de placas”, explica o cardiologista José Carlos Nicolau, diretor da Unidade de Coronariopatia Aguda do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo.
“É o que se chama de aterosclerose. Quando a obstrução se prolonga por mais de 12 horas leva à morte. Mas até seis horas após o fechamento da coronária, ainda dá para salvar o paciente”, acrescenta Nicolau, membro do comitê executivo internacional e coordenador do estudo clínico Extract no Brasil. A pesquisa, cujos resultados foram apresentados em maio deste ano no Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP), em Campos do Jordão, mostra que a comunidade médica está em alerta diante do infarto e que busca mecanismos para reduzir significativamente o risco de repetição de um novo IAM ou de morte em pacientes já infartados.
Entre as terapêuticas em voga para evitar o episódio, está a droga enoxaparina - um anticoagulante que diminui a probabilidade de ataque cardíaco ou óbito em até 17%, quando comparado com o esquema de anticoagulante padrão normalmente usado. “A enoxaparina previne a nova formação de coágulos nas artérias que levam sangue aos músculos do coração”, garante o médico Elliott Antman, diretor da Unidade Cardiológica do Hospital Brigham and Women e professor da Harvard Medical School.
Embora o Extract enfatize o potencial da droga na fase pós-infarto, o estudo também salienta que o atendimento médico imediato é um dos principais fatores para minimizar as conseqüências da doença. Por isso, é importante ficar atento aos sinais do IAM, como dores e desconforto no peito, que podem durar alguns minutos ou ser intermitentes.
“Felizmente, a medicina tem avançado. Na década de 60, 30% dos infartados que chegavam ao hospital morriam. Em 1970, o índice ficou entre 15% e 20%. Já nos anos 90, chegou-se a 10%. Essa taxa ainda tende a diminuir devido à utilização da enoxaparina”, informa José Carlos Nicolau. Apesar do progresso terapêutico, os números provenientes do infarto preocupam. No Brasil, a cada minuto, morre uma pessoa vítima de doença cardiovascular. As estimativas dos especialistas são de um aumento de 150% na mortalidade por infarto cardíaco no País até 2025.
Vale salientar que não é qualquer obstrução cardíaca que é fatal. “Apenas aquelas com grau destrutivo acima de 70% é que são perigosas. Quando a destruição é pequena, o paciente pode ficar apenas em tratamento clínico e não precisa, por exemplo, partir para a cirurgia chamada de angioplastia”, destaca Nicolau, que se refere à operação realizada para desobstruir uma artéria do paciente.
Desconforto na região do peito, acompanhado ou não por dor; incômodo em regiões da parte superior do corpo, como costas, braços, pescoço e estômago; dificuldade para respirar; náusea, suor frio e delírio.
Idade avançada (após 65 anos), sexo (O homem jovem apresenta maior risco que a mulher), hereditariedade, tabagismo, álcool, drogas, colesterol, pressão arterial, diabete, obesidade, sedentarismo e estresse.
Cirurgias em que se implantam pontes de veia safena ou mamária. Outra técnica é a angioplastia. Tratamento farmacológico também pode apresentar bons resultados.
Cuidado com alimentação através do consumo de vegetais, frutas, fibras, laticínios, vinho, e carnes magras. Evitar o consumo exagerado de sal e açúcar, gordura saturada. Check-up rotineiro e atividades físicas.
AGILIDADE - Durante o evento da Socesp, discutiu-se também sobre a intervenção médica rápida e simples como contribuição para impedir complicações caso seja necessária um procedimento invasivo. “A todos os pacientes que chegam à emergência com evento cardiovascular deve ser dada aspirina, que diminui em 22% o coágulo de quem está prestes a infartar”, explica o cardiologista Denílson Albuquerque, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UFRJ).
Coordenador do estudo Reach, que analisou informações sobre aterotrombose (doença causada pelo acúmulo de placas de gordura nas artérias do coração e, assim, favorece o IAM), ele diz que nem todos podem fazer uso da aspirina porque alguns pacientes apresentam alergia à droga. “Mas 95% dos infartados podem recorrer ao medicamento, que é de fácil acesso e ajuda a evitar complicações associadas às intervenções para tratar o ataque cardíaco. É preciso que informações simples como essa se espalhem para minimizar os contratempos”, afirma Denílson.
Fonte: JC Online