Um estudo coordenado pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor) mostra que homens com taxas elevadas de ácido úrico - substância produzida pelo organismo ao processar as proteínas e que, em excesso, pode provocar cálculos renais e gota - no sangue têm 3,5 vezes mais risco de ter calcificação nas artérias do coração. Esta alteração, por sua vez, torna o paciente de 10 a 12 vezes mais suscetível ao enfarte ou à morte súbita.
O trabalho, coordenado pelo diretor da Unidade Clínica de Lípides do Incor, Raul Dias Santos, e feito em parceria com o Hospital Albert Einstein e o Johns Hopkins Hospital, analisou 370 executivos que se submeteram, a pedido de suas empresas, a check up. Além de exames tradicionais, pacientes fizeram uma tomografia do coração, que revela a presença das placas calcificadas. O trabalho mostrou a relação entre as altas taxas de ácido úrico e a existência de tais placas.
Várias pesquisas já haviam notado que uma parcela significativa de doentes cardíacos apresentavam altas taxas de ácido úrico. Mas tais estudos não conseguiam relacionar as taxas ao problema circulatório dos pacientes. Foi este o avanço da pesquisa coordenada pelo Incor. Por meio de modelos matemáticos, pesquisadores verificaram que o ácido úrico, mesmo sem a presença de fatores de risco clássicos, como hipertensão, altas taxas de colesterol ou diabete, está associado à formação das placas calcificadas nas artérias cardíacas. "Não sabemos ainda se o ácido úrico é responsável pela formação das placas ou se ele é uma resposta de um organismo já doente", admite Dias Santos. Ou seja, não há como dizer ainda que baixando as taxas de ácido úrico os riscos de desenvolver problemas cardíacos vão diminuir.
O efeito prático da pesquisa é outro, e, para o diretor, não menos importante: "Ao perceber que seu paciente tem alterações no ácido úrico, o médico já pode reforçar cuidados preventivos contra doenças cardíacas." Redobrar, por exemplo, as recomendações para reduzir o peso, abandonar o tabagismo, controlar a pressão. "O paciente passa a ser considerado de risco maior e o médico pode acelerar a indicação de medicamentos", completa.
Como o estudo foi feito com homens com idade média de 47 anos, a equipe quer agora abrir uma nova linha de pesquisa e verificar se o resultado se repete com outras etnias e faixas etárias.
Fonte: A Tarde Online