Cognição, significa capacidade de adquirir conhecimento e isso todos nós tentamos ao longo de nossas vidas. Mas, no caso dos médicos, isso se torna um pouco complicado. Complicado, porque na conduta clínica, um erro de diagnóstico pode ser fatal para o paciente. Muitos médicos aparentemente bem conceituados em suas mais diversas áreas de atuação devem ter o maior cuidado em fazer um diagnóstico de um paciente que está vendo pela primeira vez, ou até também que o já conheça.
A dimensão cognitiva da conduta clínica é o processo pelo qual os médicos interpretam os sintomas dos pacientes e analisam os resultados dos exames para chegar a um diagnóstico e indicar o seu futuro tratamento.
Nos postos de saúde ou em pronto-socorros, aí é que o caso se torna mais difícil, pois o médico muitas vezes atende várias pessoas em que não conhece seu histórico médico e se baseia apenas pelo o que o paciente está dizendo que sente. O perigo acontece num mal diagnóstico e na prescrição de medicamentos.
A situação da saúde pública no Brasil é muito precária e deixa a desejar. A precariedade de infra-estrutura é grande e a mortalidade acentuada em países como o Brasil é alarmante. Como as consultas são rápidas demais e o número de pessoas é grande , o médico ,por melhor preparado que seja, pode cometer um erro de conduta clínica. Esses erros podem ser causados por um raciocínio inadequado na pesquisa de dados do paciente pelo médico.
É imprescindível que os médicos tenham uma linha de raciocínio clínico muito mais abrangente do que estamos acostumados a ver, seja em consultórios particulares ou no sistema público de saúde. Casos de erros médicos são levados a tribunais e se cobra a responsabilidade civil do médico pelo erro cometido, quando não, se o erro foi fatal e se comprovado por perícia que o paciente morreu por erro médico, o mesmo responderá criminalmente e se for julgado culpado , poderá ter seu registro cassado e não exercerá a medicina, entre outras implicações.
Muitos médicos têm em mente , quando entram em contato com seus pacientes, um ou mais diagnósticos e isso é um perigo, é preciso um detalhamento completo do que o paciente está apresentando no momento da consulta e a observância de todos os detalhes. Já vi casos em que acompanhei uma pessoa a um médico da rede pública de saúde , em que o mesmo nem se dignou a levantar a cabeça para olhar o paciente. Foi logo perguntando o que o paciente sentia e, através disso, passou-lhe um analgésico.
Claro que interrompi a “consulta” e o interpelei energicamente, o que lhe causou desconforto e o médico se “aprofundou” um pouco mais. Na verdade a pessoa era hipertensa e sentia dores no braço, irradiando para as costas. Ela estava tendo sintomatologia de um ataque cardíaco ou de uma angina. É preciso também que o médico seja mais sensível e tenha valores humanísticos intrínsecos à sua conduta como ser humano, visando sempre o melhor para o outro.
Para fazer diagnósticos, a maioria dos médicos se baseia em atalhos e regras práticas conhecidas pela psicologia como “heurística”. São esses atalhos que levam o médico muitas vezes a erros de diagnósticos, não considerando outras possibilidades a serem identificadas. O médico tem de observar todas as possibilidades da sintomatologia apresentada pelo paciente e ter um raciocínio rápido, porque a situação apresentada pelo paciente pode ser atípica e ele deve estar preparado para intervir imediatamente através da sua dimensão cognitiva de conduta clínica.
São quatro os erros de julgamento mais comuns entre os médicos na hora de darem diagnósticos errados: 1º.- O médico vai mais pela aparência e pelo estado emocional do paciente; 2º.- O médico se deixa influenciar por um caso parecido que vivenciou; 3º.- O médico age , mesmo sem ter certeza da especificidade do problema; 4º.- Se o médico já conhece o paciente, descarta a possibilidade da doença aparentar maior gravidade.
Esses relatos não acontecem só no Brasil ou em países subdesenvolvidos, o que é muito pior, mas acontecem também em países com alta tecnologia médica, derivados da capacidade cognitiva de se fazer um pré-julgamento sem embasamento de técnicas adequadas à conduta clínica. Esses erros são chamados de erros intelectuais ou cometidos pelos sentimentos que nutrem pelos pacientes, por isso o médico deve ser consciente de seu papel fundamental no diagnóstico de qualquer doença e na prescrição de remédios, afinal estudou muito para “cuidar de vidas”, e se possível salvá-las.
A aproximação do médico em sua conduta clínica com o paciente e todos os fatores acima mencionados, é que vai proporcionar a ambos um respeito mútuo e de confiabilidade, afinal de contas, médico não pode ser um robô, destituído de sentimentos , mas uma pessoa de carne e osso com todos os sentimentos altruístas disponíveis para um excelente exercício de sua profissão, uma das mais nobres do mundo.
Fonte: Cinform