As células estaminais podem ser usadas para regenerar o coração após um enfarte
O combate às marcas deixadas pelo enfarte no músculo que comanda a vida tem progredido, com a medicina a apostar cada vez mais na regeneração do que ficou perdido com o recurso às células estaminais.
Uma terapia que, no entanto, não é consensual. Muitas são as vozes que se levantam contra esta prática, críticas que tiveram eco numa das edições da revista ‘The Lancet’, na qual os especialistas manifestam os seus receios.
Os estudos têm-se multiplicado, mas as dúvidas permanecem, sobretudo referentes à eficácia e segurança da terapia celular aplicada aos corações feridos pelos enfartes. Isto porque, avançam os especialistas, quando se dá um ataque cardíaco parte do músculo do coração morre. Um dano impossível, até ao momento, de reverter através dos tratamentos ao dispor dos médicos. É por isso que faz sentido falar na injecção de células estaminais, também conhecidas como células-mãe, capazes de se transformarem em qualquer outra célula do organismo e, logo, a única forma de regenerar a zona afectada e melhorar a função cardíaca.
FALHAS DETECTADAS
Na última década muitos têm sido os esforços feitos, sob a forma de estudos, destinados a comprovar a eficácia deste tipo de caminho. Ao mesmo tempo, vários hospitais espalhados pelo Mundo deram início à aplicação da injecção de células estaminais para o tratamento do enfarte, que permitiram outros tantos trabalhos de investigação. Foi sobre estes estudos que os especialistas do departamento de cardiologia do Hospital Universitário Ulleval, na Noruega, se debruçaram, com conclusões que deixam muitas dúvidas.
Foram muitas as falhas detectadas pelos especialistas, que não têm dúvidas em avançar que “não é apropriado convidar um número grande de doentes a participar em novos estudos baseados nestes métodos de investigação”. O risco é, por enquanto, superior aos benefícios.
Opinião semelhante tem o director do Centro de Investigação de Medicina Regenerativa de Barcelona e do Centro de Células Estaminais do Instituto Salk La Jolla, na Califórnia, Estados Unidos, que defende o uso de estaminais para tratar os doentes que sofreram um enfarte, mas pede cautela antes de submeter os pacientes a este tipo de tratamentos.
"POTENCIAL PARA CURAR DOENÇAS DO ENVELHECIMENTO" (Manuel Carrageta, médico cardiologista)
Correio da Manhã – Quais as questões que põem em causa a terapia com estaminais?
- Manuel Carrageta – Trata-se de uma tecnologia ainda em fase de desenvolvimento, ainda com carácter experimental, com poucos doentes estudados e muitos aspectos não conhecidos. Por exemplo ainda não está esclarecido qual o melhor local para colheita das células estaminais, qual a melhor forma de administrar as estaminais ao órgão doente, etc.
– Mas há vários estudos que divergem nos resultados.
– Compreende-se que isso aconteça. Torna-se necessário desenvolver estudos com mais doentes e compreender melhor os mecanismos básicos desta nova tecnologia.
– É uma terapia com futuro?
– Não tenho dúvidas de que irá revolucionar a medicina do século XXI. Estamos no limiar de uma nova terapêutica, que permite injectar células estaminais em órgãos doentes, tornando possível recuperar funções perdidas. É um avanço com potencial para curar as doenças do envelhecimento em vez de apenas tratar os sintomas.
CORAÇÃO SAUDÁVEL
HÁBITOS SAUDÁVEIS
Sedentarismo, hipertensão, tabagismo, stress, obesidade são os suspeitos do costume quando se fala nas doenças cardiovasculares. Nunca é demais lembrar que hábitos saudáveis são meio caminho andado para uma vida melhor.
EXERCÍCIO FÍSICO
A comunidade científica não tem dúvidas de que a inactividade física é um dos factores de risco para as doenças cardiovasculares e que a nicotina aumenta a frequência cardíaca. Praticar exercício e deixar de fumar são essenciais para um coração em forma.
TENSÃO CONTROLADA
Poucas são também as dúvidas de que uma tensão alta triplica o risco de acidente vascular cerebral e duplica o de doença coronária. Atenção, por isso, à hipertensão, resultado de uma vida agitada e de uma alimentação pouco saudável.
REDUZIR O STRESS
Se a tudo isto juntarmos ainda o stress e o excesso de peso, temos uma mistura explosiva, mas fácil de evitar. Reduzir o stress nos dias agitados de hoje pode não parecer fácil, mas é possível, assim como ter atenção ao que se come. Basta vontade.
NÚMEROS
- 40 por cento dos óbitos em Portugal são resultado de doenças cardiovasculares, que lideram o top das causas de mortalidade nacionais.
- 3 milhões de pessoas no Mundo sofrem todos os anos de enfarte agudo do miocárdio. Apenas cerca de metade é diagnosticada.
- 41 mil portugueses foram vítimas, em 2002, de doenças vasculares, 9500 dos quais morreram de enfarte do miocárdio.
- 50 por cento das pessoas que sofrem um enfarte do miocárdio não consegue chegar a tempo ao hospital.
Fonte: Correio da Manha