Antes visto com desconfiança, o ensino a distância ganha qualidade e atrai cada vez mais novos estudantes em todo o Brasil. Em Brasília, a UnB e a Católica oferecem cursos de graduação e pós-graduação nessa modalidade e têm alunos até de outros países.
Uma oportunidade para quem nunca estudou, para quem volta a estudar e para quem não tem tempo livre, além do atendimento personalizado. Essas são algumas das muitas vantagens oferecidas pelo ensino a distância (EAD), que têm crescido vertiginosamente nos últimos anos no Brasil. Segundo dados do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância, só em 2006 mais de 2 milhões de brasileiros se matricularam em um curso dessa modalidade. Atualmente, o EAD é ministrado pelo governo, por empresas e e por universidades, que oferecem cursos de extensão, graduação e especialização.
O Distrito Federal ocupa o 5º lugar no ranking nacional do EAD, ficando atrás apenas de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Ceará. De 2004 a 2005, o número de alunos matriculados passou de cerca de 17 mil para pouco mais de 42 mil, um aumento de quase 150%. A Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Católica de Brasília (UCB) e a Escola Fazendária oferecem cursos a distância para alunos de todo o país e até do estrangeiro.
Entender a trajetória do EAD depende de um conjunto de fatores que acompanha a mudança no perfil de alunos e administradores. Para o diretor da Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed) e diretor-executivo da WebAula, Marcos Resende, a “dimensão continental do país” é o principal fator para a consolidação desse tipo de ensino.
Com o EAD, aponta ele, o segmento acadêmico conseguiu atingir alunos que antes não tinham acesso à educação. De acordo com o diretor da Abed, as principais razões para o aumento de estudantes são a distância e a falta de tempo e dinheiro para estudar em curso presencial. “O EAD mexeu muito com a educação, principalmente no sentido acadêmico, porque as instituições viram vantagens comerciais e educativas nessas modalidades”, diz Marcos.
Ainda segundo ele, as dificuldades encontradas por alunos em cursos presenciais também contribuem para o crescimento do ensino a distância. Na sua opinião, a ampliação do EAD será acompanhada de uma “elitização” do ensino presencial. “O ensino a distância ainda não é um artigo de luxo, mas uma necessidade”, diz Marcos Resende, ao fazer a previsão: “Daqui a 10 anos o ensino presencial vai virar artigo de luxo, porque, para o aluno, obter um momento presencial será cada vez mais difícil e caro”.
Dados do Enade são positivos
Os resultados do Exame Nacional de Desempenho do Ensino Superior (Enade) de 2006, que pela primeira vez comparou o desempenho de estudantes das modalidades presencial e a distância, mostram que, em sete das treze áreas comparadas, os alunos da modalidade a distância se saíram melhor que os presenciais. Já os estudantes ingressantes obtiveram melhor desempenho em nove áreas comparadas.
Os números foram bem recebidos pelo diretor da Abed, que interpreta os resultados como um “divisor de águas” para a trajetória da modalidade. “O EAD vai ser a grande ferramenta para que o Brasil entre no patamar mundial de educação. Esse panorama deve mudar radicalmente em cinco anos, até porque não existe nenhuma ação negativa desse ensino no Brasil”, destaca ele.
Por ser ser uma prática nova e ainda em fase de consolidação, os educadores apontam algumas preocupações na hora de aplicar o ensino a distância. A qualidade de professores e a constante motivação dos alunos são características apontadas como fundamentais para que o aluno consiga bons resultados.
Para o diretor-geral da UCB Virtual, projeto da Católica criado em 1997 para oferecer cursos a distância, a qualidade do curso “é diretamente proporcional à qualidade do professor”. Essa relação, aponta ele, é determinante para o sucesso do curso. “Quem busca fazer educação de qualidade exige muito do professor”, diz.
A atenção com o perfil diferenciado dos estudantes a distância também faz parte da estratégia para oferecer um bom curso. “O que nós observamos é que são pessoas que não têm tempo ou que têm um trabalho que exige que viajem muito”, revela. Segundo ele, a maioria dos estudantes estão entre 26 e 40 anos, o que indica um público mais maduro e dedicado. “Quem faz o curso a distância não é quem sai do 2º grau”, destaca.
Atualmente, a universidade oferece 10 cursos a distância de graduação e 14 de pós-graduação, além de vários cursos de extensão, reunindo cerca de 4 mil alunos nos ambientes virtuais. O suporte aos estudantes ocorre por meio de 27 pólos de extensão espalhados pelo Brasil, onde eles assistem a aulas de vídeoconferência, participam de encontros com outros colegas e realizam as avaliações do curso, que são obrigatoriamente presenciais. Além disso, a universidade possui pólos no Japão e em Angola, onde oferecem cursos de Administração, Pedagogia e Marketing Turístico, entre outros.
Cead possui mais de 50 mil inscritos
O diretor do Centro de Educação a Distância (Cead) da UnB, Sylvio Quezado, diz que o ensino a distância faz parte de um processo “irreversível”. “Só existe uma maneira de alavancar a educação superior no país e é através do ensino a distância”. Ele aponta que as modalidades a distância têm crescido em razão do tempo e do custo. “Em 45 anos, a UnB cresceu a uma taxa de 580 alunos por ano. Para atender a toda a população de Brasília seriam necessários mais 45 anos.”
O Cead promove cursos de extensão e especialização latosensu e possui cerca de 50 mil alunos em todo o país. Em um escritório na Asa Sul, os tutores realizam o trabalho de acompanhamento dos alunos, em média duas vezes por semana. Além disso, segundo o diretor, a expectativa é que, com a construção dos novos campi no Gama e da Ceilândia, esses locais também sejam utilizados como pólos, sendo um suporte aos alunos das modalidades,principalmente nas demandas presenciais, como avaliações e defesas de mestrado.
O professor Elioenai Alves, do Núcleo de Estudos em Promoção da Saúde, da UnB, coordena o grupo que ganhou o primeiro lugar no VII prêmio de Excelência em Ensino a Distância da Abed. “Esse prêmio foi um reconhecimento ao nosso trabalho”, diz Alves, que ministra a disciplina Promoção de Políticas de Saúde.
De volta aos estudos
Para a estudante, Kênia Ribeiro, 30 anos, o ensino a distância foi a melhor forma encontrada para retornar aos estudos. “Depois de quatro anos sem estudar, voltar à sala de aula era muito difícil”, admitiu. Segundo a estudante, que cursa agora o primeiro semestre de Administração, seu maior exemplo foi o marido, Frederick Souza, que concluiu a pós-graduação a distância. “Quando falavam em EAD eu dizia isso não daria certo. Agora que meu marido se formou, vi que isso é possível.”
De acordo com Kênia, que é mãe de duas filhas, a responsabilidade é fundamental para se fazer um curso a distância. Diariamente, ela dedica cerca de 40 minutos para estudar o conteúdo virtual. “Tem que ser responsável e correr atrás”, ressalta. Além disso, ela comemora o menor custo do curso. “Pago metade do que pagaria em um presencial”.
Para Fredecick , que passou nove anos sem estudar antes de optar pelo ensino a distância, o aluno dessa modalidade precisa estar “bem focado” no que quer. “Por ser a distância, eu pude conciliar o curso sem perder o convívio com a família”, destaca ele.
Para a estudante do 3º semestre de enfermagem na UCB, Mariana Rocha, a escolha de algumas disciplinas a distância foi uma opção para driblar a falta de tempo e complementar o curso presencial. “É mais prático. São três encontros presenciais por semestre e eu posso acessar o site em casa”, diz a aluna, que cursa as disciplinas de Ciência da Religião e Metodologia Científica.
Fonte: ComuniWeb