O Congresso Anual de Cardiologia dos Estados Unidos terminou hoje em Chicago, deixando novas formas de tratar a hipertensão, uma doença que afecta 25 por cento dos europeus e 42 por cento dos portugueses.
"É neste tipo de Congresso que aparecem os resultados dos grandes ensaios de fármacos que nos dão algumas respostas de como tratar, por exemplo, doentes hipertensos e neste congresso apresentaram-se os resultados de três estudos, um deles de uma enorme importância", explicou à Lusa uma médica portuguesa presente no 57º Congresso Anual de Cardiologia.
Para Paula Alcântara, o estudo Hyvet, sobre a hipertensão nos mais idosos, foi o mais inovador apresentado nesta área, já que pela primeira vez é realizado uma investigação especificamente sobre os idosos com mais de 80 anos, uma idade que anteriormente era factor de exclusão nos estudos científicos.
"Este estudo demonstrou que descendo a pressão arterial para valores moderadamente mais baixos, para 150/80, reduziu-se a mortalidade, o que é uma coisa absolutamente inesperada. Que diminuísse as complicações e a incidência de AVC [acidente vascular cerebral], de certa forma esperava-se que sim, agora que diminuísse a mortalidade global é um resultado perfeitamente inesperado e que nos faz pensar muito bem que se calhar temos de ter mais atenção para com este grupo etário", defendeu a médica do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e dirigente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH).
O estudo, divulgado durante o Congresso, veio demonstrar que é possível reduzir em 21 por cento a taxa de mortalidade total, em 39 por cento a taxa de mortalidade por AVC, em 64 por cento a insuficiência cardíaca fatal e não fatal e em 34 por cento os eventos cardiovasculares.
"E isto para a prática clínica é muito importante", sublinhou, "é aqui que vamos buscar as práticas e as maneiras de pensar".
Durante o congresso foi também apresentado o Accomplish, um estudo que demonstrou que no tratamento da hipertensão a associação Ieca (inibidor da enzima conversora da angiotensina)/cálcio é a que traz melhores resultados em termos de mortalidade e morbilidade cardiovascular quando comparado com a associação Ieca/diurético.
"O Accomplish veio dar a base científica na prática destas duas associações fixas e é uma mais-valia para os nossos doentes porque estamos a dar menos comprimidos. Na globalidade sai mais barato e estamos a controlá-los melhor", defendeu a especialista.
Na opinião de Paula Alcântara é ainda de salientar o estudo Ontarget, o maior alguma vez realizado na área da hipertensão, e que abrangeu cerca de 25 mil doentes de alto risco cardiovascular, oriundos de 40 países, durante três anos.
Com o Ontarget, a terapêutica para a hipertensão foi alterada depois de comprovado que existe outro medicamento tão eficaz como o até agora usado, mas com menos efeitos secundários.
Este é um trabalho que surge anos depois de um estudo de nome Hope ter revelado a existência de um composto de nome `ramipril` que trazia grandes benefícios quando aplicado a doentes de alto risco cardiovascular e que conseguia evitar um em cada cinco acidentes cardiovasculares.
Com o Ontarget, prova-se agora a existência de uma alternativa ao ramipril, o telmisartan, com a vantagem de menos efeitos secundários.
"Estes estudos vão alterar seguramente os modos de actuação dos clínicos", assegurou.
O 57º Congresso Anual de Cardiologia dos Estados Unidos reuniu em Chicago mais de 20 mil médicos e especialistas em cardiologia, tendo sido apresentadas centenas de estudos.
Fonte: Lusa