Se o baixo peso de alguns recém-nascidos já é motivo de inquietação para as mães, um estudo de cientistas britânicos acrescenta mais razões para a preocupação. Liderada por Alexander Jones, da Universidade de Southampton, a pesquisa comprovou, de modo empírico, a chamada Hipótese Barker. Formulada duas décadas atrás, essa tese sugere que pessoas com baixo peso ao nascer têm mais riscos de desenvolver doenças coronárias, derrame, hipertensão e diabetes tipo 2.
Jones e sua equipe mergulharam nessa teoria e encontraram a primeira evidência de que crianças mais leves quando recém-nascidas desenvolveram alterações específicas no coração e no funcionamento dos vasos sangüíneos ainda durante a infância. Segundo eles, essas mudanças ajudam a explicar a maior propensão a problemas de saúde na fase adulta. Quase sempre silenciosas, as doenças cardiovasculares são as responsáveis por 30% das mortes no mundo – até 2030, a expectativa é de que 24 milhões de pessoas morram por ano.
De acordo com a pesquisa da Universidade de Southampton, o modo com que o coração e os vasos sangüíneos funcionam durante o estresse revela características individuais associadas a um risco maior de hipertensão arterial e de doenças coronarianas. Os cientistas monitoraram os batimentos cardíacos e a circulação sangüínea de 140 meninos e meninas entre 8 e 9 anos, submetidos a estresse psicológico. Todos foram bebês saudáveis e nasceram com o peso dentro do padrão normal. Os testes consistiram em contar uma história em público e depois realizar cálculos aritméticos.
‘‘Nos meninos, descobrimos que quanto menor era o peso no nascimento, dentro de uma faixa normal, maiores as chances de uma alta resistência vascular (força contrária ao bombeamento de sangue no sistema circulório) e a pressão sangüínea, principalmente nos 30 minutos iniciais do teste’’, afirma Jones. ‘‘Por sua vez, as meninas não demonstraram uma resposta específica ao estresse. Elas apresentaram indícios de uma superatividade do sistema nervoso simpatético — que controla ações involuntárias’’, acrescenta. Para Jones, foi a primeira prova da relação entre tamanho no nascimento e a função do coração e dos vasos sangüíneos na infância. ‘‘As diferenças entre os sexos podem levar a uma melhor compreensão do motivo pelo qual homens e mulheres tendem a desenvolver hipertensão e doenças vasculares em fases diferentes de suas vidas’’, diz o cientista.
Os especialistas suspeitam que crianças com respostas exageradas ao estresse têm mais probabilidade de se tornarem adultos hipertensos e terem doenças antes do que aquelas que não exibiram reações contundentes. Com base no estudo, eles esperam entender melhor os processos desencadeadores dessas doenças para tentar revertê-lo antes que seja tarde demais.
Em entrevista ao Correio, o cardiologista Renault Mattos Ribeiro Jr., médico do Hospital Santa Lúcia, admitiu que o estudo britânico serve de ‘‘alerta’’, mas defendeu uma política de saúde pública focada no combate aos fatores de riscos, como tabagismo, alcoolismo e vida sedentária. ‘‘Existia a idéia de que as doenças cardiovasculares pertenciam a homens ricos e mais velhos. Estamos vendo uma inversão: é cada vez mais freqüente em pacientes com baixa condição socioeconômica e entre jovens, além de aumentar entre as mulheres com o avanço da idade’’, afirma o especialista. Segundo Renault, a região Centro-Oeste detém uma das maiores incidências desse tipo de patologia, perdendo apenas para as regiões Sul e Sudeste.
Rodrigo Craveiro
Da equipe do Correio