Prevenção contra a intervenção
Recentemente, ocorreu em Nova Orleans, no estado norte-americano da Louisiana, as Jornadas Científicas da Sociedade Americana do Coração, conhecida como American Heart Association. Mais de vinte mil especialistas participaram. Além das novidades na pesquisa sobre enfermidades cardiovasculares, ficou novamente claro que a prevenção é fundamental para diminuir os fatores de risco.
A dra. Martha Daviglus é porta-voz da American Heart Association e professora de Medicina Preventiva da Feinberg School of Medicine e da Universidade Northwestern, de Chicago. De origem boliviana, ela é uma famosa epidemiologista cardiovascular especializada no estudo da relação entre as doenças cardiovasculares e os fatores de risco, particularmente os que são catalogados como de baixo risco: os custos com cuidados de saúde e a qualidade de vida.
Principais fatores de risco
A dra. Daviglus explica que, embora nos últimos quarenta anos os cinco principais fatores de risco (pressão alta, colesterol alto, diabetes, obesidade e o fumo) estejam em baixa, lamentavelmente segue existindo uma prevalência muito alta de doenças cardiovasculares, principalmente agora que há uma epidemia mundial de obesidade.
"Não apenas nos países de primeiro mundo, mas também nos de terceiro mundo, a obesidade está aumentando. E como a obesidade está muito relacionada à pressão arterial, ao colesterol elevado e principalmente ao diabetes tipo 2, devemos esperar que nos próximos anos aumentem as enfermidades cardiovasculares. O fator de risco que representa o diabetes é similar ao de um ataque cardíaco", explica a dra. Daviglus.
Controle dos fatores de risco
"Nos próximos trinta anos, segundo a Organização Mundial da Saúde, se os fatores de risco não forem controlados, as enfermidades cardiovasculares aumentarão muito", diz a médica, que reconhece que, para muitos, é bastante difícil manter a pressão sanguínea entre 80 e 120, sem necessidade de tratamento, ou um colesterol de menos de 200mg por decilitro, não fumar, não ter diabetes e não ter tido nunca um ataque cardíaco.
A obesidade, de acordo com Daviglus, está se tornando um fator de risco cada vez mais grave. "Se não existirem os fatores de risco, obesidade incluída, a população estará muito pouco exposta às enfermidades cardiovasculares", assegura a médica.
Homens, mulheres, brancos, negros, ricos e pobres
"Os homens sofrem maior risco que as mulheres. Também existe uma diferença entre as raças. Os negros têm maior pressão arterial e isso os expõe a um maior risco. Nas pessoas com um nível sócio-econômico alto - e, portanto, com melhores condições financeiras para cuidar da saúde -, desaparecem os riscos", afirma a dra. Martha Daviglus.
Menos intervenção cardiovascular
Um dos temas centrais das jornadas científicas de Nova Orleans enfocou a necessidade de menos intervenção médica nos casos de doenças cardiovasculares.
"Gostaríamos de nos dedicar mais à prevenção, e isso exige que a indústria médica e empresas comerciais trabalhem juntas. Necessitamos que a indústria elabore alimentos com menos sal e com menos calorias, e que existam locais onde se possa fazer exercícios tranquilamente", reclama Davidlus.
"É muito importante trabalhar juntos. No futuro, a intervenção vai salvar vidas, mas a qualidade de vida para o paciente depois vai ser mais baixa do que antes da intervenção, o que pode ser evitado com a prevenção. É muito importante que se enfoquem todos os recursos possíveis para a prevenção", alerta a médica.