Terapia genética brasileira para problemas cardíacos passa em 1º teste
Os primeiros resultados da aplicação de terapia gênica em brasileiros com problemas cardíacos considerados terminais mostram que a técnica é segura e viável, dizem pesquisadores envolvidos no teste. Os corações de dez pacientes tratados com as injeções de DNA parecem funcionar melhor, bombeando sangue com mais vigor, revelaram médicos ontem em uma conferência.
Um dos coordenadores do teste clínico, o cirurgião Renato Karam Kalil, do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, contou à Folha que a intenção é finalizar nas próximas semanas o tratamento do grupo inicial, totalizando 14 pacientes. Dependendo dos resultados, é claro que nossa intenção é ampliar o grupo, diz.
Os dados foram apresentados por Kalil no 55º Congresso Brasileiro de Genética, que termina hoje em Águas de Lindoia, no interior paulista.
Em geral, antes de ser aprovado para uso rotineiro pelos médicos, um novo procedimento passa por três fases de testes em humanos. A fase 1, por exemplo, tem como principal objetivo mostrar que uma terapia é segura, enquanto a eficácia é avaliada na fase 2 e na fase 3 (com mais pacientes).
Podemos dizer que o nosso teste é a fase 1 e a fase 2 juntas, porque estamos avaliando tanto a melhora dos pacientes quanto a segurança, explica Kalil. Os doentes são reavaliados um, três, seis e 12 meses após a aplicação da terapia.
Oito deles estão há mais de três meses com bons resultados. Para começar, todos estão vivos. Só um precisou ser internado, por causa da diabetes. A capacidade de bombear sangue melhorou, a área do coração onde há circulação sanguínea cresceu e o desempenho dos pacientes em testes de esforço físico também está melhor.
O agente ativo da nova terapia é um fragmento de DNA que contém a receita para a produção do VEGF-165, molécula que estimula o crescimento de vasos sanguíneos. Isso atenua a isquemia, a restrição da passagem de sangue ligada a danos em veias e artérias.
Os pacientes tratados são justamente pessoas com uma forma terminal desse problema no coração, para os quais hoje não existe opção de tratamento. Todos foram operados e receberam injeções diretamente no coração. O medicamento foi usado na forma de um plasmídeo, um pedaço de DNA em forma de anel. As células do organismo o incorporam e usam-no como código para produzir o VEGF-165.
Um dos truques empregados pela equipe foi adicionar ao plasmídeo trechos de DNA que favorecem a produção do VEGF-165 em condições de baixa presença de oxigênio. Outros testes não levaram isso em conta, o que talvez explique o sucesso irregular com pacientes diz Sang Won Han, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), colega de Kalil.