Na prática clínica a coronariografia tem sido utilizada de rotina na estratificação de pacientes com dor torácica em muitos centros cardiológicos. A técnica de coronariografia tem se tornado segura e hoje comparativamente com o ano de 1983 ela aumentou em 250% o seu emprego nos EUA. Técnicas de ultrassonografia e Dopplerfluxometria intravascular tem ampliado a compreensão da anátomo-fisiologia coronária e das repercussões da placa aterosclerótica. Muitos cardiologistas frente a uma lesão inferior a 50% tranqüilizam o paciente e adotam uma postura contemplativa. Nos últimos anos, várias informações sobre a doença aterosclerótica obstrutiva considerada não significativa tem sido disponibilizada elas apresentam impacto clínico na tomada de decisão. A informação mais importante é que revisando os achados de cineangiocoronariografia realizados entre 6 meses e 1 ano antes do IAM, as lesões culpados em 2/3 dos casos são inferiores a 50%. Uma possível explicação hoje bem definida é que a placa aterosclerótica cresce inicialmente para fora da luz vascular (remolamento negativo), portanto a placa pode ser complexa e envolver toda a circunferência de parede arterial e não ser obstrutiva. O segundo ponto é que a oclusão arterial nas SIA (Síndromes Isquemicas Agudas) é ditada por inflamação-ruptura e trombose e não pelo grau de obstrução do diâmetro luminal. Outro importante aspecto é a dissociação de lesões intermediárias (entre 50 e 70%) dos achados angiográficos e a real obstrução observada pelo ultrasson intravascular. Portanto, na nossa visão devemos olhar para essas lesões com visão crítica, pois podem ser a causa da SIA e com potencial de evolução para novo quadro de SIA, inclusive ocasionando morte súbita. A nossa conduta tem sido de frente a lesões intermediárias passíveis de serem abordadas por ultrassonografia, indicamos a avaliação ultrassonográfica ou em centros que não dispõe da técnica deve-se avaliar por métodos de cardioimagem o impacto funcional da lesão (eco estresse ou cintilografia miocárdica).
A intervenção por angioplastia deverá ser feita nas lesões consideradas importantes no ultrassom ou com impacto funcional pelo doppler intravascular ou pelos métodos de cardioimagem. Todos os pacientes com demonstração angiográfica de aterosclerose coronária temos adotado firmamente medidas de cardioprevenção. O prognóstico de pacientes com doença aterosclerótica coronária inferior e 50% tem sido demonstrado ser completamente diferente da população com coronariografia normal e é semelhante a pacientes com lesão de três vasos com função de VE preservada. Portanto, os pacientes com lesões não superiores a 70% na coronariografia devem ser abordadas de maneira individualizada e integrando resultados angiograficos, morfologicos (ultrassom) e funcionais e enfatizado a terapeutica farmacológica e não farmacológica sobre os fatores de risco.
Fonte: http://www.cardiol.br/ColunaSBC/anteriores/10/003.htm