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16/01/2013
Relação entre enxaqueca e problemas cardíacos

Novos estudos apontam para a relação entre enxaqueca e problemas cardíacos em mulheres

A enxaqueca acompanhada de aura pode elevar as chances de problemas cardiovasculares mais até do que outros fatores, como diabetes e obesidade

Dois novos estudos divulgados nesta terça-feira encontraram uma relação entre enxaqueca, especialmente a que vem acompanhada com aura, que é um conjunto de sintomas como alterações visuais, fraqueza e até alucinações, a uma maior chance de doenças cardiovasculares em mulheres.

Uma dessas pesquisas também mostrou que as dores de cabeça são ainda mais perigosas à saúde do coração do que fatores de risco conhecidos, como diabetes, tabagismo ou obesidade. Além disso, segundo outro trabalho, a enxaqueca com aura, se apresentada por mulheres que fazem uso de anticoncepcionais, pode aumentar mais ainda as chances de complicações de trombose — isso porque contraceptivos hormonais por si só já elevam esse risco. Os resultados de ambos os estudos foram publicados pela Academia Americana de Neurologia e serão apresentados em março, quando acontecerá o encontro anual da entidade.

Uma das pesquisas, feita no Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França, acompanhou, ao longo de 15 anos, 27.860 mulheres com mais de 45 anos, dentre as quais 1.435 relataram sofrer de enxaqueca com aura periodicamente. Durante esse tempo, foram registrados 1.030 casos de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral (AVC) ou mortes por alguma doença cardiovascular. Os pesquisadores observaram que a enxaqueca com aura foi o segundo fator de risco que contribuiu para algum desses eventos cardiovasculares, ficando atrás apenas da hipertensão e à frente de diabetes, tabagismo, obesidade e histórico de doença cardíaca na família.

Sem pânico — Isso não quer dizer, porém, que todas as pessoas com enxaqueca terão um ataque cardíaco ou um AVC durante a vida, mas sim que o risco para que isso ocorra pode ser maior entre elas. "Talvez os pacientes com enxaqueca precisem ficar mais atentos do que os outros a outros fatores de risco para doenças cardiovasculares, como excesso de peso ou tabagismo. Mas esses resultados não devem apavorar pessoas que têm enxaqueca”, disse ao site de VEJA Tobias Kurth, coordenador desse estudo. Kurth é pesquisador do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França e também professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

O pesquisador não soube explicar, porém, qual o mecanismo envolvido na relação entre enxaqueca e fatores de risco para doenças cardiovasculares. "Há algumas hipóteses, que incluem função endovascular e genética, mas ainda não há uma resposta para essa questão", afirmou.

Anticoncepcional — A segunda pesquisa foi feita no Hospital Brigham and Women, da Universidade Harvard. A equipe buscou entender se a enxaqueca pode agravar o risco de trombose venosa profunda (formação de coágulos nas veias profundas do corpo) entre mulheres que fazem uso de contraceptivos hormonais, que são associados à elevação dos riscos dessa doença. Para isso, a equipe acompanhou, durante 11 anos, quase dois milhões de mulheres, dentre as quais 145.304 faziam uso de algum contraceptivo hormonal — 2.691 relataram sofrer de enxaqueca com aura e 3.437 afirmaram ter enxaquecas sem aura. Os resultados mostraram que o maior risco de trombose venosa profunda foi mais perceptível entre mulheres que faziam uso de anticoncepcionais e que tinham enxaqueca com aura. Ou seja, foi maior do que entre aquelas que faziam uso de algum contraceptivo, mas não tinham enxaqueca, por exemplo. Shivang Joshi, neurologista clínico da Universidade Harvard e autor dessa pesquisa, também não soube dizer ao certo o que acontece no corpo para que a enxaqueca influencie o risco de trombose. "Há vários mecanismos que podem estar relacionados a esse quadro. É possível que uma condição chamada 'depressão cortical alastrante', que é como uma onda de atividade elétrica que ocorre com a enxaqueca com aura, possa predispor o cérebro a lesões isquêmicas. Também podem haver mecanismos genéticos compartilhados pela enxaqueca e pelos coágulos. Mas se existe, ainda não sabemos", afirmou Joshi ao site de VEJA. O pesquisador afirmou, ainda, que esses resultados não devem fazer com que mulheres que sofrem de enxaqueca com aura e que fazem uso de algum contraceptivo abandonem o anticoncepcional. "Isso deve incentivar as pacientes a relatarem os episódios de enxaquecas a seus ginecologistas para que, assim, eles escolham o melhor anticoncepcional para elas. No entanto, elas devem ficar atentas a outros fatores de risco, especialmente ao tabagismo", disse Joshi.

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